A carta de um egoísta

Os olhos transparentes demonstram a inquietude,
O coração se dilacera ao desacelerar,
Talvez o sentido da vida seja não ter sentido,
Mas se não tem sentido,
Como saber se estou em no caminho ou a vaguear.
Vejo a frente ombros cansados,
De cruzes que julgo suportar,
A vaidade artificial,
Desvenda o limite,
Uma hepatite social,
Sorrir quando choro,
Valorizo quando perco,
A vulnerabilidade do segredo,
Como o vício da heroína.
O mundo do ter, ganha adeptos e contamina,
Talvez distante da base,
Do alicerce,
Da quermesse de onde partiu,
A fuga pra lua que nunca ousou,
O medo da rua de que nunca saiu,
O cansaço da vida que sempre pediu.
Eis eu,
Egoísta por opção,
Cansado do pão nosso,
Que pede logo cedo em forma de oração.
Eis eu, o egoísta,
Simplista e passageiro,
Em um carro algumas vezes desgovernado e sem freio,
Suplicando destino e anseio,
Sabendo que mesmo despercebido,
Vem sendo amparado,
Talvez ansioso pelo resultado,
Não percebe o zelo do cuidado,
A devida atenção.
Mesmo sabendo que amanha é um novo dia,
Que o sol ainda brilha e na certa vencerá,
O dia passa lentamente em uma luta inútil contra si mesmo,
De enfoques em desfechos que não pode modificar.
As contradições diárias de um peregrino,
Que só queria estar bem,
Não esperava tantos dilemas,
Problemas e desafios,
Mas a fé que resiste,
Surpreende,
E prontamente demonstra a diferença do ter e do ser no existir,
Talvez eis a chama que reascende a vontade de seguir.
Desculpe por hoje,
Amanha lhe agradeço de novo por todo conforto,
Como a lei do retorno,
Do plantar e colher,
Do amar pra ser livre,
Da paz de estar bem,
Obrigado por tudo,
Perdoe as faltas,
Amém.
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