Esse tal de julho

Como é ruim querer gritar sozinho,
Em um quarto ou em um carro trancado,
Desafiando o absurdo com requintes de crueldade,
Na primavera que chega e aumenta a idade.
É triste perceber que é falho,
Que não é o que realmente projeta ao acordar,
Que finge sorrindo quando queria chorar,
Que finge sorrindo só pra ficar, só.
Com os problemas,
Com os edemas que causa nos outros e em si,
Que não consegue concertar por não ser tão simples assim,
É triste perceber que nem sempre se concerta.
Como um tapa na cara com a sua própria mão,
Uma forte ressaca mesmo não bebendo,
A ressaca é moral,
Do fatal,
Que faz mal,
Que sem alarde prejudica,
De uma pandemia que se espalha,
Que destrói o corpo e a alma,
Ao afastar o que mais precioso tinha,
A certeza que amanhã seria diferente,
E que daqui pra frente,
O sorriso viria em forma de verdade,
Mas na realidade é triste perceber que é falho,
E que enfrentar as falhas não é mais do que sua mera obrigação,
No mês que deveria ser de glorias e aplausos a sansão,
Ele se apresenta triste e careca.